sexta-feira, 13 de julho de 2007

EXORTAÇÃO AO SILÊNCIO.


Quinze horas.

Minha rua está como sempre povoada de gente desocupada, pessoas vão e vêem num ir e vir desesperadamente desencontrado no tempo/espaço.

Crianças que brincam inocentes num gritar desconcertante implorando atenção da vida que lhes oferta risos não menos inocentes que seus desajeitados olhares.

É a vida que se põe à minha frente, é o dia a dia que se põe fatigante ante uma tarde comum demais para quem sonhara desbravar oceanos, desafiar dragões sacro-santos do medievo, ou mesmo intentar contra as ordens estabelecidas pelo que se convenciona chamar de razão...

Como me é comum ver e aceitar que os que por mim passam não me olhem os olhos e de mim tenham receio por julgar-me desejoso ou observador demais para com suas atividades e atribuições; como me soa confuso que esses não indaguem da própria existência algo que lhes remeta a um momento de fato intenso e profundo no dia que se esvai nessa tarde comum de terça-feira; como me inquieta ver as mulheres da Avenida José Lins do Rêgo ostentarem sua submissão aos seus exaltados maridos e senhores, me dói vê-las e inquieta-me ouvi-las a vangloriarem-se garbosas do que determinam e repudiam seus amados esposos no cotidiano de seus lares.
Essas mulheres receiam viver, aceitam da vida o equívoco do presente por não lhes serem dadas as condições de vislumbrar um futuro, contentam-se por viverem à mercê das vaidades e verdades de seus amados.

A eles amam por medo do desamor, a eles amam por se perceberem privilegiadas.

A juventude, a beleza, a exuberante e provocadora juventude passa à minha frente, ignora-me.
Como são tolos os jovens...
Como são belos e tolos.
Por certo não seriam tão belos se lhes faltasse essa ingênua arrogância ao ostentar a beleza como se a ela possuíssem.
Ouço gritos jovens, de vozes infantes, num linguajar camarada que lhes faz senhores do riso, do escárnio e do deboche.
Os jovens passam por essa rua levando com eles o que aqui já não se ousa por medo do julgamento e sentença dos de cá, os jovens levam consigo o riso de quem não teme o ridículo.

Na minha rua, o ridicularizado torna-se ridículo...

Desce pela margem onde todos sobem, um jovem.

Olhar baixo.
A confusão instala-se cá em mim, acaso ir-se-ia esse jovem desencontrado do seu caminho para algum lugar importante?
Onde iria esse jovem de beleza tão ofuscante num lugar onde os feios se hospedam com seus gestos vulgares e mentalidade vil?

É algum Nobre!
- Diria por certo algum colono.

Ponho-me arrimado em minha cadeira a pensar nas várias coisas que o surpreenderá vida a fora, vai-se esse rapazote sem saber do quanto a vida lhe exigirá.
Como tateia esse moço no descompasso de seus desajeitados passos de seus aparentes 16 anos .

Olha-me medrosamente por entre bicicletas que circulam.

Visivelmente esse jovem teme a vida, teme o rubor que o desejo a ele poria comprometido.
Esse tempo/espaço chamado Avenida José Lins do Rêgo em tudo compromete.
Esse inquietante jovem é de tempos outros, não grita, não pula, não há boné vermelho e minúsculo em sua cabeça, não se trata, por certo, de uma duplicata dos de hoje ...

Seus olhos miram um horizonte distante e vazio, tem olhos que a ninguém emudece, pois nada dizem...

Como são diferentes os que não são iguais!

Pareço ser um tanto expletivo, todavia, intentar contra, ou mesmo ignorar um gestual ou o articulado estilo de vida entre os jovens de hoje, é arvorar-se a um isolamento desesperador.

Esse jovem que vejo é diferente, pois me parece pensar ao passo que caminha, e caminha à medida que pensa...
O desencontrar de seus passos são conseqüentes entraves à ele atribuídos por ousar ver, pensar e amar diferente.

Esse jovem faz a diferença por ser - em si - o que é com todos.

Esse jovem tal qual Tadzio, esbanja o que é sem perceber sê-lo, e assim sendo, torna-se amplamente belo dentro dos seus desencontros, - desencantos não os tem, pois encanto é o que provoca.

Minha rua se apresenta inquieta em seu próprio marasmo, angustia por si mesmo o vento que me bate o rosto, parece o vento de sempre...

Minha rua é lugar dos que já não vivem.

Minha rua esbanja solidão, ao passo que os gritos juvenis exaltam a vida que me corre às vistas.
Nessa rua muito já gritei, nela muitos pulos dei, aqui profundamente amarguei solidões várias de motivos múltiplos e sentimentos vastos.
Nessas esquinas, muito me perdi, nelas, muito me achei e viví.

Aqui muito fui feliz enquanto muito esperava sê-lo.

À minha frente, senta-se um Homem.

Acomoda-se em sua cadeira e busca um repouso a meu ver sempre muito merecido.
Olha-me de sobressalto, incomoda-se em olhar-me.
Esse Homem me teme por nunca ter-me sido próximo, seu olhar lembra uma espiada discreta de quem muito quer ver sem quase nada espiar.

Meu pai é alguém triste.
Esse Homem a quem Amo e por quem daria minha vida, muito me Ama sem saber como.
Ama-me silencioso, no acalanto de sua solidão, esse HOMEM PERDÃO é grande por ter sido sempre exato em sua dimensão sempre demais Humano.

Já dorme, por certo acordou cedo.

Seus pés castigados ajeitam-se cruzados numa busca visível por repouso.
Os pés do meu pai o particulariza entre milhares, são pés que muito caminharam numa ida sem chegada concreta ou pelo menos visível.
Suas unhas sujas, seus calos, os pés do meu pai parecem tortos sendo o seu caminhar virtuoso.

Meu pai tem pernas tortas, parece-me ser uma – a esquerda - mais fina, na verdade isso sempre me pôs curioso, pois nunca ninguém reparou...

Suas calças com pernas dobradas, esse homem parece sempre estar a se proteger de alguma lama, meu pai tem hábitos que me fez crescer estranhando-os.

Sempre sem camisa - meu pai jamais sentiu frio – vejo seus pêlos já acinzentados e nisso, um fato que me angustia: MEU PAI ESTÁ VELHO.

Esse Homem não pode envelhecer, parece ainda não ter vivido.
Sua respiração se dá como sempre o fora.
Esse homem nunca perdeu o sono, é justo demais para ter insônia
– eu diria em testemunho.

- Esteve doente. Minha mãe me falou.

Meu pai nunca fala de coisas suas e jamais destacaria algo de suas coisas.
Essa fortaleza nunca me deu um beijo e nele um único afago eu - penosamente - nunca fiz.

O silêncio entre nós desencadeia uma busca por esses que passam.
O barulho desesperador dos que ladram suas quimeras, desses que não amam senão desconstituídos de suas supostas virtudes.
Nesses eu tenho atestado meu desamor de Homem que aos Homens não ousa olhar sem por Amor vir a suplicar.

São esses, os que passam os que mais ficam cá em mim.

Esses, de movimentos previsíveis, de sentimentos difusos e de interesses sugestionáveis me adocicam um presente de passado seco e futuro amargamente azedo.
Ouço o toque da Escola Epitácio Pessoa, o intervalo termina, o silêncio se instala novamente em meu interior inquieto.

Muito tenho a fazer por esses que pouco enxergam do muito que lhes cerca.

O Amor há que ser compreendido um dia, é meu desafio desde sempre.
Hei de fazer valer o que sinto fazendo valer o que penso.

Fecho minha revista, reponho meus calçados, fecho meu marcador de texto - que nada marcou - e vou dar minha quarta aula.

Aqueles que me esperam pouco pensam sobre o muito que lhes falo, mas penso entenderem que quem fala sente o que diz e sabe porque pensa...

Meu caminhar vai confiante n’algo que suponho poder fazer, uma coisa apenas pretendo refletir nessa quarta aula da tarde de terça-feira:
A VIDA É MESMO BELA E DINÂMICA DEMAIS PARA LHE ADICIONAR RECALQUES.



Marcilon Oliveira.
Aos que amam no silêncio que lhes é imposto...

EXORTAÇÃO AO PRETÉRITO IMPERFEITO.

Enquanto ouvia um programa de rádio hoje cedo durante o banho - hábitos antigos - despertei para o óbvio que se repete desde há muito em meu cotidiano...
Deu-me um estalo e, de súbito, me surpreendi pensando estar em uma outra década.
Essa sensação me foi, porém, nova ante um dia aparentemente comum e com todas as chances para se repetir, como que em série, no conjunto de dias que constroem essa minha quase sempre fatigada vivência.

Meu banho, meus horários, minhas preocupações ante a abordagem profissional exigida para este dia, a notícia recontada sobre violência que me põe - às vezes, pensativo e triste - alardeada como coisas novas no noticiário.
Meu eterno cansaço ante um dia que começa sempre - a meu ver - muito cedo, são características de um início destruidor de pequenos fragmentos de vida...

Uma vida conjugada sacrificadamente no Presente do Modo Indicativo em função de uma possível, mas pouco provável estabilidade financeira no Futuro do Presente...

Viver no Presente do Modo Indicativo é, sem dúvida em tese, a única alternativa que se tem...Contudo, partilhar das ações conjugáveis e comumente adicionadas como regra no encarte dos melhores e mais audaciosos Homens deste tempo é abandonar por completo, a possibilidade de se permitir viver de modo integral no Presente que realmente nos interessa.

Certamente não estou sendo claro...

Mas reflitemos...
Grande parte das pessoas hoje em dia vive em um tempo que não é exatamente o Presente do Modo Indicativo,suas atividades diárias estão intimamente direcionadas para o Futuro.
O Presente está condicionado a um sonhar irrestrito com as aspirações deste tempo, a juventude anseia projetar-se adequadamente em um Mercado de Trabalho que lhe assegure visibilidade e um tipo de sucesso ancorado no poder de compra; o Homem de hoje destaca-se por viver em função do que supõe poder ser num futuro imediato, este Homem vangloria-se por ter titulação acadêmica de vinte anos de estudo tecnicista, ostenta orgulhoso os anos que passou afastado de seu Presente em função incondicional de um Futuro de glórias e condecorações.

O Futuro que originalmente se acreditava trazer grandes surpresas e que seria grandiosamente maravilhoso com a graça de Deus, parece não mais limitar-se como coisa abstrata, o Futuro nos invade o Presente.

Hoje meus contemporâneos se encontram subordinados a um Presente-ausente que se perfaz na busca incansável da construção de um Futuro com bem estar e comodidade.

O Presente já não nos basta, o Futuro já não mais algo nos traz.

Acaso no Presente acomodaríamos um outro sentimento que não o sentimento da insatisfação?

Corremos num tempo-espaço indefinível à procura do que não pode estar lá se não for construído aqui.

Corremos atrás de coisas demais, fugimos de nós.
Largamos nosso agora.

O tempo que se avizinha nos assusta mais ainda se estivermos presentes no Presente.

O Homem de hoje amarga um Presente sempre aquém do que se propõe a serem os mais ambiciosos e decentes homens...
Debutamos como gente grande sentindo-nos impróprios para o mundo novo por termos que provar o que podemos ser, escondendo sempre o que somos e o que temos sido.
Nossos jovens usam a Universidade como passaporte que os credencie diante de nós, e neles acreditamos à medida que muito se larguem do Presente e vivam eufóricos na construção exaustiva do Amanhã, nesses creditamos nosso louvor e deles professamos que serão algo, alguém...

Como é triste constatar que nada somos se muito não pudermos ser!

Essa sociedade parece doida, fugindo no tempo ao tempo à procura de um estamento de vida que lhe justifique a vida perdida.
Por certo acreditamos na possibilidade de já não termos Presentes sem a crença de que se possa ter Futuro.

O desespero se instala.
Nossos filhos tornam-se cativos de cursos, especializam-se em tudo, simulam habilidades para um mundo eclético amparados em nossas frustrações passadas e presentes.
Nossos Jovens sofrem por não lhes ser permitido estar onde estão, nós os projetamos num tempo-espaço que aqui não sei definir.
E cá estão os jovens de hoje, preocupados em provar para outrem - também inseguro - que lutam incansavelmente dia e noite para ter um Futuro promissor.

Meu banho se dá desta feita, estranhamente lento, percebo abismado mãos que há muito não via, vejo em suas linhas o equívoco que desde sempre fiz tanta questão em segurar, manter e controlar.
Minhas mãos estiveram tempo demais ocupadas com meu Futuro, estas mãos largaram mãos que imploravam um Presente intenso, vívido.
Muito me acovardei por não me permitir viver o Presente, como me dói entender que de muita Felicidade abrí mão por não ter tido tempo e angustia-me ver que sobrou-me o Tempo necessário para ver que a Felicidade recusada lá transformou-se no amargo que tenho cá.
O Tempo que não tive para a Felicidade é o mesmo que hoje me falta com as ocupações que acumulei.
Essas mãos foram jogadas desde sempre entre os joelho, num sono breve, em noites curtas de Presente duro e um Futuro de acalanto e sonhos.

"Meus sonhos" ocuparam desde há muito minhas mãos carentes de afeto e toque... (sim, aspas,
não saberia ao certo afirmar que foram realmente meus todos os sonhos pelos quais briguei...)

Minhas mãos deslizam pelo meu corpo, minhas mãos tocam pés que tomaram forma sem que eu visse, calos que se formavam e os deformaram sem que deles fizesse algum caso, estes pés foram longe...
Vejo pés que de tão brancos já não parecem meus.
Ouso não crer que fôra com estes pés que muito desembestara entusiasmado quando criança, pelos campos orvalhados de Una de São José, nego-me a identificar nestes pés o equívoco de um caminhar desencontrado de minha direção...
Nego-me, ademais, a admitir que meu Futuro é este Presente inquietante pelos desafios de um Tempo que já se achega trazendo novos desafios e impulsionando-me a um recomeço cotidiano na construção de um novo Futuro.
Quero negar-me na perpetuação do erro, não tenho forças, meu Futuro urge, e em meus ouvidos tagarelam sugestionamentos mil...

Toco meus joelhos.

Lembro e lamento as longas carreiras que nunca dei num destrambelhar de peito ao vento e sorriso aberto, lembro ainda o cheiro das manhãs que não senti, a relva verde que não me dignei a pisar e sobre ela parar, sentir...
Esses joelhos se entrevarão sem que nunca tenham sido hábeis, ficarão trêmulos sem nunca terem ostentado o peso de um bem estar Presente.
Em meu rosto vejo marcas, rastos.
Linhas que me acusam por expressões que se repetiam num gestual diário de fadiga e dissabor ante a lida adquirida e mantida.
Estas linhas me alinham num conjunto de outros que, aos milhares, de Futuro preencheram seus Presentes...

Saio do banho.

O dia se mostra claro e desafiador.
Em meu quarto vejo bem de perto o mundo que para mim criei, acostumei-me demais com coisas demais; esse cheiro de mofo; essa luz artificial; essas paredes em tons pastéis, cores secundárias, esse odor de artefatos que lembram lavanda; essas coisas tantas que guardo por insistir terem algum valor.
O Radio ainda toca, desta feita, um Programa da Rádio RC – FM de Itambé-PE me faz vibrar ante uma constatação:
MINHA GERAÇÃO NÃO CANTAMAIS, POR NADA MAIS ENCANTÁ-LA...
Esse Tempo parece estéril,a Arte parece infértil,o pensamento parece atado,recatado demais para o laborar do Tempo que se apresenta.
Ouço e entendo que os de ontem embalam os de hoje, e estes, quando ainda sensíveis reparam nos que já se foram pessoas vivas pois algo dizem.

Salve Gonzaguinha!
Viva para sempre Cazuza!
Seja eternamente lembrado Renato!

Nesta manhã, a música não é de hoje e quem pensa não está mais aqui nesse Presente.
Nesta manhã, meu dia não recomeça por não me ser permitido recomeço, apenas começo pelo que devo.

Esses tempos não nos dão muitas chances por apresentarem-se ecléticos demais.

Meus dias são autoritários porque tiram meu Presente, atam-me ao Futuro e desfaleço como gente ausente.

Dizer que SOU não posso, falta-me essa flexão na linguagem gramatical que ora espio, o Presente do Modo Indicativo encontra-se em construção num tempo Futuro que se contrafaz no Presente.

Será destruindo o Presente que se constrói o Futuro?
É essa construção que de todos nós tem tirado o direito de sentir a própria dor.

Chego ao guarda-roupas.
Cá estão roupas que julgo apresentar-me e falar por mim.
Roupas que me fazem ostentar o galardão de um Homem batalhador e intransigentemente guerreiro na luta por um lugar ao sol.
Ornamento-me para que minha indumentária fale por mim, propague meu státus, determine meu meio, projete-me decentemente entre os "decentes" de hoje, sou típico do meu tempo por não caber-me na mente um pensar díspar do que me convenciono entender do que sou num Tempo que desconheço.

Estou para o Futuro, no presente o acaso se faz.
Um café rápido, como é rápido também o meu olhar para os meus.
Um grande dia me espera.Agora não posso fraquejar, tenho montanhas a ultrapassar,
inimigos a vencer, ignorar.

Esse meu Presente é desafiador, apresenta-se ante meus olhos comose de concreto fosse.
Estarei ocupado por quinze horas, nas demais me imaginarei num emprego melhor, n’algo que me remunere e dignifique mais.

Meu Presente se vende.
Horas-extras de trabalho para o bem estar se instalar mais depressa, barganhamos com nossa vida em função de um Futuro que urge num Presente que tarda.
Pessoas me esperam.

Construo Futuros, sou peça-chave nessa mecânica que delega a todos o compromisso sacro-santo com o Futuro.

Estou pronto.
Saio decerto tranqüilo, convicto de que neste Presente muito se pode fazer por um tempo que ouso intitular de "o tempo para todos".
No Presente, vamos dando um jeito.

O riso - quando não vazio - é triste,
NÃO CHORAMOS MAIS, pelo menos de paixão e alegria,
nossa música é raquítica,
nossa compreensão condicionada,
nosso prazer tolhido,
nosso doce é aguado.

Na verdade...

Nosso PALADAR um Tempo levou.
Estamos MÍOPES e nosso TATO e precário.
Temos mesmo que acreditar e trabalhar por um Futuro...
Muito bom seria se pudéssemos fazer isso do Pretérito Imperfeito.
Além de ser onde melhor estivemos,
nosso Presente é um preço muito alto.



Marcilon Oliveira.
À precariedade deste Tempo...
Aos precavidos do Presente.

EXORTAÇÃO AOS MEUS.

Condutância...
É o que me liga ao meu objeto de Amor.
Sou díspar, múltiplo e, portanto, ÚNICO.
O afeto que em mim se abstem amplia meu desejo de Amar.
Sou abnegado do Amor com o qual outros se deleitam e nisso
já não me comprazo com esses cuja essência ignoram,ou mesmo
afunilam seus horizontes para o Amar.

A Paz que em mim se faz já não me contrafaz, me sinto pronto,
e posso Amar o vil capataz.
O Amor presente em mim, a mim amplia, recria.
Sou déspota para boçais ante tudo que em mim julgam diminuir-me.
Engrandeço o que serei sendo o que sou...
A Pessoa a quem Amo é temente ao nosso Tempo...
Devoto da Ordem.
Sacramentado no equívoco das frivolidades coisificadas do agora.

Meu Amor esbanja a frialdade de seu meio, é ríspido com o que sente e mente indeferente
nas alegrias do acaso premente que nunca o preenchem.

Meu Amor é triste, e feliz seria se não buscasse à outros.
O ultraje que em mim atestam, DETESTO.
NADA SOU SENÃO A CONSCIÊNCIA DO QUE POSSO SER.
Tudo em mim é parte, sou mais um ímpar, num mundo de páreas.

A parestesia que em mim os paredros deste Tempo provocam não
é sentida por quem de mim tomou o coração.
Tua parlenda não inclui os olhares que te atiram às feras
Meu Amor pensa ser fera...

Sou Homem que sente e Ser Humano que pensa.
Amo aos sensíveis, venero os que pensam.
Grito o que calam, transcrevo o que vêem e ignoro o que temem.

As amarras que em mim foram impostas pela Mentalidade de meu
Tempo já não me direcionam o mover.

Sou livre de mim.
Já não sou objeto de um conduzir estereotipado.
Não sigo mais passos ou diretrizes.
É a ti que quero em mim, comigo.
É de ti que tento aproximar o que sou.
Somos páreas sendo distintos...

Quiçá...
Sou inteiro na metade que complementas.
Não me basto sem ti.

Foram-se os dias incompletos, dias cujas horas eternizavam-se em lamurias,
dias cujas sombras da dúvida e da insegurança atordoavam a mim e aos meus.
Já não vivo em dias de obscuridade, dias onde a auto depreciação se fazia necessária.
Sou livre de mim.

-Reitero.

Sou atípico, e nisso se fundamenta meu valor.
Comuns, além de normais são efêmeros.
Atípica é também minha crença no que sou e dos meus limites...
Amar e Ser Amado talvez seja o mais fácil...
...difícil e dispendioso é vagar sem rumo por não se ter referenciais
CONCRETOS de Vida e de Morte e das coisas que se pensa crer.

Abraçar as causas desse Tempo
Ignorar questões que me esteiam como Ser Pensante
Sublimar verdades nas quais não acredito
São coisas que nas quais já não mais me comprazo.
Quero o dias claros
Sorrisos largos
Verdades explícitas
Mãos sinceras
Gestos nobres
Pés firmes
Dentes à mostra
Quero noites quentes
Gente de verdade
Palavras desconcertantes
Sexo solto
Vidas abertas
Trabalho SEMPRE.
Quero semanas de espera
Minutos longos
Segundos eternos
À procura de um Amor presente.

Quero mais que esse Tempo
Quero a futilidade que me consolida
Quero o amargo que me põe doce
Quero você por me transladar desse mundo e me remeter ao que sou.
Quero estar comigo
e de mim, cada vez mais livre...



Marcilon Oliveira.
Aos Amores que posso ter.

UMA VERGONHA EM MIM, a crônica feia.

A música "COMIDA" de Arnaldo Antunes foi o que me veio à mente quando me deparei com essa imagem na Internet hoje cedo...

Na referida música, o grande e inesquecível vocalista dos Titãs faz uma crítica às necessidades de inclusão sócio-cultural hoje tão negadas ao povo brasileiro.

Uma composição profunda que tenta expôr as dificuldades ou mesmo as impossibilidades de acesso da massa às produções culturais, a uma alimentação digna, aos insumos básicos para a complementação e satisfação da Pessoa Humana.

Vejamos o que diz o adorável compositor:

Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
A gente não quer só comida,
A gente quer comida, diversão e arte.
A gente não quer só comida,
A gente quer saída para qualquer parte.
A gente não quer só comida,
A gente quer bebida, diversão, balé.
A gente não quer só comida,
A gente quer a vida como a vida quer.Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
A gente não quer só comer,
A gente quer comer e quer fazer amor.
A gente não quer só comer,
A gente quer prazer pra aliviar a dor.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer dinheiro e felicidade.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade.

Ora, o conjunto de assertivas articulado pelo Poeta dos Titãs sobre as demandas de satisfação e expectativas do Ser Humano é louvável, como é também louvável a compreensão disso entre os que têm consciência da importância da Arte para o engrandecimento do Homem enquanto ser Social...
Onde quero chegar, todavia, - e isso o faço com grande constrangimento - é em uma provocação acerca da foto que escolhi para a temática dessa minha crônica. ESSE AFRICANO ESTARIA INTERESSADO NESSE CONJUNTO DE NECESSIDADES?
Entendo que não.

Entendo ainda que esse pobre menino (ou seria menino pobre?) não está interessado em muita coisa não...

Esse, que em mim causou arrepios não conhece outra coisa que não a miséria, a fome e toda sorte de abandono e descaso que conseguirmos agora imaginar.
Essa criança, que nasceu predestinada ao equívoco é fruto, não de um país ou de um Continente empobrecido, é vítima do grande e maior mal que circunda o Homem desde sempre: A ESTUPIDEZ EM SE ACHAR A "COISA" MAIS IMPORTANTE DO PLANETA, e em detrimento disso, destruí-lo, destruir-se.

Essa criança é vítima de todos nós que compomos essa Civilização. Esse mundo apodrecido pela arrogância daqueles que se acham grandes e onipotentes. Nosso compromisso com o nosso tempo precisa ser uma preocupação conjunta. O que acontece neste planete diz respeito a todos nós, somos nós os fatores determinantes neste mundo. Entender que as coisas são assim e que nossa participação nas questões pertinentes a "outros povos" é algo que foge ao nosso alcance denota uma ignorância que não se pode permitir e mais, admitir, em tempos de Globalização, onde os interesses do Capital estão compactados num só artefato.

A História da espécie Humana é repleta de exclusões de toda ordem. Não se tem registro na História da Civilização um único caso onde a segregação, a violência, escancarada ou vedada, não estivesse presente. Nos países de Primeiro Mundo - nomenclatura Moderna e conquistada às duras penas através da exploração das massas - as pessoas não são menos frias do que os "selvagens" primitivos dos tempos remotos, porém, com uma ressalva: a indiferença quanto o sofrimento e o grito dos alijados da vida, parece-me ser mais acentuada nos tempos atuais considerando que temos melhores condições para o debate e a compreensão dos problemas da contemporaneidade.

A mim me parece que estou sendo muito intransigente no que afirmo, e mais, ao atribuir para o nós, seres humanos, a responsabilidade com as questões do nosso tempo, desconsidero uma questão religiosa que atribui à Deus tal responsabilidade.
Não acho justo com Deus, todavia, que O culpemos por nossas ações e muito menos ainda, pela nossa inação.

Teria o Senhor nos dotado de tanta inteligência para que fôssemos isso que somos?
Seria o propósito do Todo Poderoso provar que a espécie Humana é um equívoco em sua criação?

Pondero, acaso o Senhor dos senhores não se entristece com a nossa inércia mediante o clamor do nosso semelhante? A Doutrina que trouxe à Israel suplicava (suplica) para que fôssemos (sejamos) Fraternos - "aquele que socorre a um pobre é a mim que socorre" - , Jesus Cristo não tentou nos provar que era santo, mostrou-nos que se humanizou sentindo todas as inseguranças e medos que atribulam a todos nós mortais, compadeceu-se e ajudou a todos que O abordaram.

É preciso repensar, redirecionar nosso rumo, rever nossos valores, voltar e refazer nossa condição mais elementar enquanto espécie. É urgente essa carência de reflexão, é aterrorizante o grito que dão as pessoas excluídas deste planeta.
Nos afastamos ao extremo do nosso semelhante. Tão distante estamos que nem o reconhecemos mais naqueles que não têm a mesma pele, o mesmo cabelo, a mesma cultura, os mesmos recursos que nós.

Meu Deus!
Onde chegamos? Não podemos avançar mais...
Nossa Civilização está em ruínas, nossos valores todos, equivocados!
A VIDA HUMANA CLAMA POR ATENÇÃO!

Nosso semelhante implora por ajuda, cuidados!
Há crianças dizimadas numa sina de vida que lhes tira as possibilidades de se sentirem GENTE!

Esse discurso é entoado por muitos, evidentemente, não sou único, mas onde queremos chegar???

Paremos um pouco nessa caminhada torpe, desumana, que segrega nosso irmão à uma condição de vida desumana, que envergonha a todos nós.
Não é racional, ou pelo menos tolerável que deitemos e durmamos o sono dos justos se lembrarmos que nesse horário PESSOAS, CRIANÇAS estão violenta e silenciosamente alijadas de qualquer Direito Humano, Civil ou mesmo Natural de ter acesso a comida.

Não se trata nem de defender uma política que intergre esse povo no contexto global de Modernidade, o sonho é simplório, mas parece inatingível, dadas as particularidades do comportamento deste Homem Ocidental centrado em seus inventos, desafios e metas: ESPERA-SE QUE NÃO SE VEJA MAIS ESSA GENTE MORRENDO SILENCIADA, INDEFESA, IGNORADA COMO SE NADA FOSSE... ESPERA-SE COMIDA, UM SORRISO NOS LÁBIOS DE CRIANÇAS INOCENTES E ESQUECIDAS num mundo que caminha como se delas não fosse.

A impressão que tenho é que essa criança não pertence mais a espécie humana, como se o mundo não lhe comportasse mais nenhum espaço ou oportunidades.

Tenho amigos que se sentem mal quando essas pobres criaturas aparecem na televisão: é comum que mudemos de canal, não gostamos de ver tal quadro, nos incomoda, contudo, o que temos feito?

Mudar o canal de TV ou mesmo ignorá-las e quem sabe por por fim, esquecê-las diminuirá nosso compromisso com a Palavra que professamos na Missa todo domingo no sentido de defender os pobres?
Não vê-las pode nos proporcionar uma noite sem culpas, sem pesadelos, mas não trará nenhum refrigério para a nossa consciência que insistirá em lembrar que o pão que comermos no café da manhã é o sonho de criancinhas que nunca saborearam um café completo.

Podemos viver no mundo que quisermos. A imaginação nos permite isso.
Podemos silenciar o nó entalado na garganta diante de tanta miséria.
Podemos, com os nossos afazeres diários e até noturnos, esquecê-las completamente, mas nunca poderemos negar que o reencontro será menos doído.

São Seres Humanos. Não sei, porém, se lhes resta algum sonho.
São Seres Humanos. Não sei ainda, se acreditam em sonhos.
São Seres Humanos. Não sei, sobretudo, se crêem em algo.

Nossa Civilização lhes tirou as condições mais primordiais na composição de um Ser Humano:
A CRENÇA E A CAPACIDADE DE SONHAR.

O que lhes resta?

O olhar dessa criança nos fala tudo, pois certamente não saberia nos pedir nada civilizadamente.
Esses olhos nos vêem como nós somos, frios e dissimulados.
Talvez por isso não gostemos de assistí-los aos Domingos em matérias do Fantástico em meio ao conforto e comodidade do nosso lar.
Esses olhos nos acusam sim.
Nossa fuga, porém, envergonham-lhes.



Marcilon Oliveira.
Mais um - entre milhares - também responsabilizado.

CRÔNICA AO AMOR DE HOJE...

- Pois bem...

Disse-me certo dia um certo homem que não pôde ficar esperando uma garota crescer para casar com ela.
Perguntei-lhe por que não arranjava uma mulher mais madura, uma vez que esse homem apresentava os seus quase quarenta e cinco anos... Disse-me o homem - cujo nome
é Anderson Alves - que sua amada já estaria desesperadamente na casa dos trinta e cinco. Confesso que pouco entendi daquilo.
Ora, se ele reclamava de uma mulher que tem já uma vivência de trinta e cinco anos, o que diria se lhe apresentasse uma de quinze aninhos?
Esse homem me fez refletir pelos próximos dias sobre algo que já havia identificado nas relações de gênero na atualidade, é visível a insatisfação de todos. Parece-me, porém, que não se tem culpados, posso crer que somos todos vítimas, vítimas do que, todavia, eu não saberia especificar.

O desencontro entre as pessoas é algo gritante nesses dias de Globalização, sinto que essas se enclausuram dentro de si mesmas, receosas por se darem, por se entregarem. A insegurança determina e delimita também as proporções de afeto: ama-se mediante circunstâncias, espera-se que o outro seja sempre o protagonista do Amor que esperamos sentir e viver, nos encantamos ainda com o Amor, mas, desejamos fervorosamente que nos amem e que façam declarações cinematográficas por nós - temos Ego demais para Amarmos outrem...

O vazio que preenche as relações modernas entre os adolescentes é algo que me põe triste... Vejo belos rapazes passeando pelas Praças de Itambé, moças de beleza estonteante que nunca se sentiram disputadas com o fervor de um coração apaixonado, jovens alheios do que se perdeu com os tempos de ORKUT...
Sem o conhecimento claro do que, de fato, seja um relacionamento desafiador, onde não se busca unicamente os melhores e mais fúteis prazeres que o outro possa compartilhar, onde o outro é amado mesmo que desvendado, revelado e contrastado com as primeiras impressões estabelecidas antes da convivência.
ESTARRECIDO, lamento por esses que não se permitem conhecer, que não ousam a maior aventuras de todas - o desbravamento da personalidade da pessoa que amamos - foi-me de cortar o coração, perceber que entre os jovens, a mentalidade, ou o modo como se relacionam com o mundo que lhes cerca é algo copiado uns dos outros, os jovens modernos já não desbravam nada que se relacione ao outro, estão centrados sempre em seus próprios desejos - quase sempre bens de aquisição material - ou pelo menos não se dispõem a conquistarem sua leitura própria das coisas em geral.
O Homem de ontem era mais humano, chorava menos mas sentia mais, se expressava pouco mas tinha muito a dizer, vivia em um tempo dificultoso mas em suas vivências havia mais profundidade, não se desbragava por pouco e era mais firme em seus afetos, estudava menos mas conhecia mais, consumia menos mas tinha mais prazer, desconhecia mais todavia refletia mais também.
O Homem que acaba de acabar, este que ficou no século passado, deixa-nos muito com seu silêncio condicionado pelas circunstâncias históricas, esse homem se entendeu melhor enquanto inventou menos, criou menos mas foi mais criativo...
Amo os Homens da Renascença, do Iluminismo, o faço, porque eles o fizeram.
Não obstante estarem atados pelo falso moralismo de suas épocas, desbravaram as fronteiras do sentimento verdadeiro por suas cortesãs, mulheres de casa, moças donzelas, jovens e belos mancebos, aludiram o Amor como sentido maior da existência Humana, e foram, mesmo que impregnados pelos ranços do pecado determinado pela Igreja ao longo dos séculos, bem mais inteiros que estes que comungam comigo diante de uma Mídia não menos hipócrita do que os Abades de outrora...

A felicidade parece invadir a todos, diria que é piegas em tempos de "MALHAÇÃO" mostrar-se triste, solitário ou introspectivo. Esbanja-se beleza, carisma, carícias descoladas, mas no coração já não se toca... Já não se tem intervalo entre a BALADA, A FACUL e os FDS para se olhar nos olhos, para se contemplar uma pessoa e AMÁ-LA, ADORÁ-LA como é o propósito de todo ser enamorado desde o começo dos Tempos.

O tempo parece pouco, as palavras limitadas, mutiladas, os sentimentos atados, os olhares apressados, os corpos belos como nunca, a vida corrida e sem rumo, o prazer cifrado e tarifado, e assim...

O FORRÓ é SAIA RODADA, a bebida é PITÚ, os abdômens, penteados, bijús, batons, chapinhas, bíceps atados, cuecas à mostra, pircers em locais estratégicos fazem das pessoas de meu tempo muito comuns, sem valores individuais.

Ora, se um diamante é valioso porque é raro, esse montante de duplicatas terá algum valor?

Acho que por isso o Sr. Anderson Alves não me pareceu nada triste...

Marcilon Oliveira.
Aos Amores que não tive...

EXORTAÇÃO A UM LOUCO...

Sê, oh louco!
Mais que possam esperar de ti.
Atreve-te ao que não julgas...
Aprenda do que te ensinam o que te soa lógico...
Logicamente! Segue dizendo aos sãos.

Retira de ti tudo que não é teu.
Devolve-o a Sociedade.
Espera dela o mínimo que pode te dar
Dá-lhe o máximo que puderes.

Sê, oh louco!
O que jamais se fôra.

Sê amplamente louco, desequilibre.
Àquela que levou de ti o sonho,
dá-lhe cidadãos perturbadores.

Sê este Homem de pouco juízo e nenhum julgamento.

A tua loucura abonar-te-á em tua Humanidade.

Sê, oh louco!
Feliz apesar de ti.
Que contigo solucem os outros que por aqueles foram edificados.

Entenda,
mas jamais defina.
Ensine o que quiserdes aprender.
Sê mais que ti, sê todos.

Ouça o silêncio.
Ignore o sermão.
Vivifique em ti o que tende a morrer.
O que se dilui , solidifica aos teus.

Não ouse, tal qual Sócrates, debater, ;
silenciosamente louco, esmerando-te das afirmações...
Inquietar-te-á qualquer lucidez.

À ti, esta plena insanidade protege-te de teus páreas.
Sê um louco a cada caso e que o acaso não te ponha lógico
e que o descaso não te imponha relógio.

Sê, oh louco!
Este que de tanto viver, revive.
Dispõe-te a rir...
...ri de tudo que nada entendes.
Ri de ti se acaso te perceberes.

Atente para o bramido das mulheres...
essas,
também loucas,
entender-te-ão...
Não busque nessas, distinção...
todas,
loucas ainda o são.

Marcilon Oliveira.