sexta-feira, 13 de julho de 2007

EXORTAÇÃO AO SILÊNCIO.


Quinze horas.

Minha rua está como sempre povoada de gente desocupada, pessoas vão e vêem num ir e vir desesperadamente desencontrado no tempo/espaço.

Crianças que brincam inocentes num gritar desconcertante implorando atenção da vida que lhes oferta risos não menos inocentes que seus desajeitados olhares.

É a vida que se põe à minha frente, é o dia a dia que se põe fatigante ante uma tarde comum demais para quem sonhara desbravar oceanos, desafiar dragões sacro-santos do medievo, ou mesmo intentar contra as ordens estabelecidas pelo que se convenciona chamar de razão...

Como me é comum ver e aceitar que os que por mim passam não me olhem os olhos e de mim tenham receio por julgar-me desejoso ou observador demais para com suas atividades e atribuições; como me soa confuso que esses não indaguem da própria existência algo que lhes remeta a um momento de fato intenso e profundo no dia que se esvai nessa tarde comum de terça-feira; como me inquieta ver as mulheres da Avenida José Lins do Rêgo ostentarem sua submissão aos seus exaltados maridos e senhores, me dói vê-las e inquieta-me ouvi-las a vangloriarem-se garbosas do que determinam e repudiam seus amados esposos no cotidiano de seus lares.
Essas mulheres receiam viver, aceitam da vida o equívoco do presente por não lhes serem dadas as condições de vislumbrar um futuro, contentam-se por viverem à mercê das vaidades e verdades de seus amados.

A eles amam por medo do desamor, a eles amam por se perceberem privilegiadas.

A juventude, a beleza, a exuberante e provocadora juventude passa à minha frente, ignora-me.
Como são tolos os jovens...
Como são belos e tolos.
Por certo não seriam tão belos se lhes faltasse essa ingênua arrogância ao ostentar a beleza como se a ela possuíssem.
Ouço gritos jovens, de vozes infantes, num linguajar camarada que lhes faz senhores do riso, do escárnio e do deboche.
Os jovens passam por essa rua levando com eles o que aqui já não se ousa por medo do julgamento e sentença dos de cá, os jovens levam consigo o riso de quem não teme o ridículo.

Na minha rua, o ridicularizado torna-se ridículo...

Desce pela margem onde todos sobem, um jovem.

Olhar baixo.
A confusão instala-se cá em mim, acaso ir-se-ia esse jovem desencontrado do seu caminho para algum lugar importante?
Onde iria esse jovem de beleza tão ofuscante num lugar onde os feios se hospedam com seus gestos vulgares e mentalidade vil?

É algum Nobre!
- Diria por certo algum colono.

Ponho-me arrimado em minha cadeira a pensar nas várias coisas que o surpreenderá vida a fora, vai-se esse rapazote sem saber do quanto a vida lhe exigirá.
Como tateia esse moço no descompasso de seus desajeitados passos de seus aparentes 16 anos .

Olha-me medrosamente por entre bicicletas que circulam.

Visivelmente esse jovem teme a vida, teme o rubor que o desejo a ele poria comprometido.
Esse tempo/espaço chamado Avenida José Lins do Rêgo em tudo compromete.
Esse inquietante jovem é de tempos outros, não grita, não pula, não há boné vermelho e minúsculo em sua cabeça, não se trata, por certo, de uma duplicata dos de hoje ...

Seus olhos miram um horizonte distante e vazio, tem olhos que a ninguém emudece, pois nada dizem...

Como são diferentes os que não são iguais!

Pareço ser um tanto expletivo, todavia, intentar contra, ou mesmo ignorar um gestual ou o articulado estilo de vida entre os jovens de hoje, é arvorar-se a um isolamento desesperador.

Esse jovem que vejo é diferente, pois me parece pensar ao passo que caminha, e caminha à medida que pensa...
O desencontrar de seus passos são conseqüentes entraves à ele atribuídos por ousar ver, pensar e amar diferente.

Esse jovem faz a diferença por ser - em si - o que é com todos.

Esse jovem tal qual Tadzio, esbanja o que é sem perceber sê-lo, e assim sendo, torna-se amplamente belo dentro dos seus desencontros, - desencantos não os tem, pois encanto é o que provoca.

Minha rua se apresenta inquieta em seu próprio marasmo, angustia por si mesmo o vento que me bate o rosto, parece o vento de sempre...

Minha rua é lugar dos que já não vivem.

Minha rua esbanja solidão, ao passo que os gritos juvenis exaltam a vida que me corre às vistas.
Nessa rua muito já gritei, nela muitos pulos dei, aqui profundamente amarguei solidões várias de motivos múltiplos e sentimentos vastos.
Nessas esquinas, muito me perdi, nelas, muito me achei e viví.

Aqui muito fui feliz enquanto muito esperava sê-lo.

À minha frente, senta-se um Homem.

Acomoda-se em sua cadeira e busca um repouso a meu ver sempre muito merecido.
Olha-me de sobressalto, incomoda-se em olhar-me.
Esse Homem me teme por nunca ter-me sido próximo, seu olhar lembra uma espiada discreta de quem muito quer ver sem quase nada espiar.

Meu pai é alguém triste.
Esse Homem a quem Amo e por quem daria minha vida, muito me Ama sem saber como.
Ama-me silencioso, no acalanto de sua solidão, esse HOMEM PERDÃO é grande por ter sido sempre exato em sua dimensão sempre demais Humano.

Já dorme, por certo acordou cedo.

Seus pés castigados ajeitam-se cruzados numa busca visível por repouso.
Os pés do meu pai o particulariza entre milhares, são pés que muito caminharam numa ida sem chegada concreta ou pelo menos visível.
Suas unhas sujas, seus calos, os pés do meu pai parecem tortos sendo o seu caminhar virtuoso.

Meu pai tem pernas tortas, parece-me ser uma – a esquerda - mais fina, na verdade isso sempre me pôs curioso, pois nunca ninguém reparou...

Suas calças com pernas dobradas, esse homem parece sempre estar a se proteger de alguma lama, meu pai tem hábitos que me fez crescer estranhando-os.

Sempre sem camisa - meu pai jamais sentiu frio – vejo seus pêlos já acinzentados e nisso, um fato que me angustia: MEU PAI ESTÁ VELHO.

Esse Homem não pode envelhecer, parece ainda não ter vivido.
Sua respiração se dá como sempre o fora.
Esse homem nunca perdeu o sono, é justo demais para ter insônia
– eu diria em testemunho.

- Esteve doente. Minha mãe me falou.

Meu pai nunca fala de coisas suas e jamais destacaria algo de suas coisas.
Essa fortaleza nunca me deu um beijo e nele um único afago eu - penosamente - nunca fiz.

O silêncio entre nós desencadeia uma busca por esses que passam.
O barulho desesperador dos que ladram suas quimeras, desses que não amam senão desconstituídos de suas supostas virtudes.
Nesses eu tenho atestado meu desamor de Homem que aos Homens não ousa olhar sem por Amor vir a suplicar.

São esses, os que passam os que mais ficam cá em mim.

Esses, de movimentos previsíveis, de sentimentos difusos e de interesses sugestionáveis me adocicam um presente de passado seco e futuro amargamente azedo.
Ouço o toque da Escola Epitácio Pessoa, o intervalo termina, o silêncio se instala novamente em meu interior inquieto.

Muito tenho a fazer por esses que pouco enxergam do muito que lhes cerca.

O Amor há que ser compreendido um dia, é meu desafio desde sempre.
Hei de fazer valer o que sinto fazendo valer o que penso.

Fecho minha revista, reponho meus calçados, fecho meu marcador de texto - que nada marcou - e vou dar minha quarta aula.

Aqueles que me esperam pouco pensam sobre o muito que lhes falo, mas penso entenderem que quem fala sente o que diz e sabe porque pensa...

Meu caminhar vai confiante n’algo que suponho poder fazer, uma coisa apenas pretendo refletir nessa quarta aula da tarde de terça-feira:
A VIDA É MESMO BELA E DINÂMICA DEMAIS PARA LHE ADICIONAR RECALQUES.



Marcilon Oliveira.
Aos que amam no silêncio que lhes é imposto...

6 comentários:

ladyneide disse...

Aqui... encontro sensações boas, tem belas palavras,tem você... pessoa linda, sempre disposto a mostrar que o amor, por mais estranho e distorcido que seja, ainda teima em brilhar...é tão grandioso, forte e verdadeiro tudo isso, q sinto sua energia...és um SER ILUMINADO!!!
Beijossssss!!!!!

loidenunes@gmail,com disse...

Adorei...

O Amor disse...

Marcilon, o blog ficou excelente. É isso aí. Os textos são ótimos. Vou adicionar seu blog ao meu, para não perder de vista (apesar de que você é da Parceiros de Prosa e Poesia). Quando puder, visite também meu blog e, gostando, adicione-o aqui [ http://poemasdeandreluis.blogspot.com ]. Também. Vamos tentar ampliar a rede de intercâmbio artístico-cultural, influenciando-nos e aprendendo mutuamente. Grande abraço!

Marcilon Oliveira disse...

Grande Ladyneide!

Diria, sem muita vergonha, que esta é a minha Crônica preferida, viu?


Beijo! ^^

Marcilon Oliveira disse...

Adoro você, Loíde linda!

Beijo! ^^

Marcilon Oliveira disse...

Grande André...

Você é o Mago dos Blogs, Querido, meu Norte.


Abraços! ^^