quinta-feira, 12 de julho de 2007

EXORTAÇÃO À DÚVIDA.

Por quem, de fato, dobram os sinos - pondero.

À quem vão os hinos, matutinos?
Para quem voam as gaivotas?
E as ovelhas, a quem contemplam?

Por quem gelam os mares e quem acorda os vulcões...
Por quem saltam os veados e por quem gritam as hienas?
Quem fala à lagartixa e à quem temem as serpentes?
E os sapos, com quem fazem côro?
E aquele grilo, quem o anima e a quem tenta despertar?
Como não gritarem os lobos?
A preguiça, de quem aprende?
E os macacos, a quem ensinam?
Quisera saber a quem anunciam as galinhas poedeiras, e mais,
com quem harmonizam os galos no alvorecer.

Quisera, muito quisera!
Encontrar o mentor da união dos cardumes...
Quem cronometrou o voo das araras, ou mesmo, quem coreografou a dança das baleias?

Por quem escrevem os Poetas?
Com quem riem os bebês?
A quem olha o moribundo e nisso, como é, e a quem teme o imundo...
Acaso a esses não brilhariam as estrelas?
E o mar, a quem balança?
E a lua, muda só?
O sol, a todos aquece?
A quem encara e por quem baixa?

Quem, de pranto, em silêncio molha devotamente a relva quando se esvai o crepúsculo...
Quem espreita o vil leproso?
Quem pintou a zebra?
Quem tozou o leão?
E o gorila, quem depilou?

Quem, do alto da mata, orquestra o sabiá laranjeira?
Quem apressa a saúva?

O Tempo é deveras efêmero.
Mas quem o espia?
A Vida é severamente intolerante.
Por quem não ousamos revê-la?
O cumprimento do dever é sagrado e nisso, a despeito de outrem,
vejo desumanos eclesiásticos, sabatinados...
...a ignorarem o tempo de Amar.

O que sobra quando o tempo esgota e a Vida, ávida implora Vida?
A quem contempla o que cumpriu a comprida sina do dever cumprido?

Por que riem os que choram tanto?
Por que outros cantam enquanto desencantam acalantos tantos?
Quem é, verdadeiramente, um Sertanejo?
Paraibana, o que há por ti, se contigo, há fé sem sonhos ou encantos mínimos?

Um homem a sorrir, uma criança a brincar, uma mulher a Amar pelo gosto de se doar.
Há sede no medo.
O pecado apavora, há Paz nos cabelos da velha senhora.

Há que se Amar o Amor, sem respostas, sem dor.
Há que se ser feliz, no encontro com a Vida, na busca da busca, sem medo do medo.
É esse o segredo!
É assim desde cedo...

Nas regras há trevas, nos adultos indultos, nos adágios presságios.

E assim fez-se o Homem cujo zelo irrestrito o denota bendito, e contudo, restrito.
É a Paz que se dá, é o Amor que se tem, é aquilo que urge que nos faz ver além...
Muito além da natura, muito mais que a fauna, que a beleza da flora...

É a Vida que chora à procura por zelo.
É um deus que se deu como um grão de centeio.
É o Amor manifesto que não cabe nos livros.

Que liberta cativos...
...que nos faz declarar que o melhor dessa vida,não nos cabe no olhar.

Marcilon Oliveira.
À Leonardo Araújo!

2 comentários:

Unknown disse...

Teus versos são flores
diferentes,
de perfumes díspares;
são, sobretudo,
consonâncias reunidas pelo mistério
do espiar que te configura um
felídeo atento
e único. Pleno tal qual um Cretense.
“Eu vejo flores
em você”.
Abraço!

Marcilon Oliveira disse...

Em você, Amado Léo, vejo bosques!

Quanto aos Cretenses...
Oxalá tê-los mais na inteireza da Alma.

Abraços fumaçados... eheheheh